domingo, 20 de novembro de 2016

#PraQuemIndico 4: AS CONTRIBUIÇÕES DE DERECK LANGRIDGE SOBRE AS GRANDES QUESTÕES RELATIVAS AO PROCESSO DE CLASSIFICAÇÃO

Super dica de leitura para Bibliotecários e ou profissionais que lidam com a organização da informação!




Um pouco sobre o autor

Derek Langridge foi conferencista titular de uma escola/faculdade de biblioteconomia do Norte de Londres. Além de ter feito parte do grupo de pesquisas – “Classification Research Group” (CRG) – que contribuiu para um melhoramento ou ampliação da teoria da classificação de S. R. Ranganathan. Foi professor na Inglaterra, nos EUA e no Brasil[1]. E é considerado pela comunidade acadêmica brasileira atual, assim como é Lancaster[2], como um dos principais especialistas nos problemas relacionados com a Classificação do conhecimento[3].


Um pouco sobre a obra

Esta obra foi publicada pelo autor no ano de 1973, e foi traduzida para o português no ano de 1977 por Rosali Fernandez de Souza. Em uma época que a própria tradutora pontua na apresentação da obra, que “[...] a literatura sobre a classificação em língua portuguesa ainda [...]” estava em fase de estabelecimento. Neste sentido, consideramos necessário pontuar, a importância histórica da tradução da obra não somente para o contexto brasileiro mais também para todos os países que adotam a Língua Portuguesa de modo oficializado. Sobre a tradutora consideramos ainda relevante pontuar, que atualmente a mesma, é pesquisadora titular do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência de Tecnologia (IBICT) – e professora do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação desde 1982, pela mesma instituição, tendo concluído seu doutoramento na Inglaterra em 1984, na mesma faculdade onde Derek Langridge foi conferencista titular. Foi também aluna do escritor quando cursou seu mestrado no Brasil em uma época que o IBICT ainda se chamava Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação – IBBD. Além de inda ser atuante na área da Ciência da Informação, no que se concerne a Organização e Representação do Conhecimento e da Informação[4].


Um pouco mais sobre a tradução

Sobre a tradução, consideramos relevante destacar que atualmente no Brasil a obra é amplamente referenciada pelos pesquisadores e estudantes de Biblioteconomia e Ciência da Informação, principalmente no que se refere ao seu prólogo, onde o autor por meio de um tipo ideal, no caso um casal fictício, problematiza as questões relativas aos processos de Organização e Classificação em todas as esferas da vida cotidiana. Neste prólogo, fica evidente que o autor procura convencer os seus leitores que o processo de Classificação e Organização são processos que fazem parte de modo natural das nossas vivências cotidianas e estão presentes no dia-a-dia em todas as nossas atividades. Obviamente, que cabem aqui profundas reflexões. Sendo que estas precisam acontecer levando-se em consideração as questões levantadas pela Filosofia do Conhecimento ou da Ciência, além das problematizações que nos trás a Psicologia Social e a Neurociência, pois sabemos que apesar da naturalidade em que se dão estes processos de Classificação e Organização das coisas no nosso cotidiano, eles não acontecem de modo simples e automático nos sujeitos, contudo são processos complexos que precisam ser considerados, levantando-se também as questões cognitivas e sócio-culturais nas quais eles estão lincadas e estruturadas.


Algumas reflexões gerais

Para Langridge os esquemas de classificação podem ser GERAIS ou ESPECIALIZADOS, no que se refere à classificação geral, esta, segundo o autor, tem relação com “à cobertura de assunto”, ou seja, os esquemas de classificação “existentes foram elaborados conscientes ou inconscientes, para uma determinada época e de alguma forma para uma determinada cultura”. E no que se refere à classificação “especializada”, esta segundo Langridge, “têm um assunto CENTRAL [...] e assuntos PERIFÉRICOS [...]”. Deste modo, a fim de exemplificar o autor nos diz que na Biblioteconomia um “assunto central” são as bibliotecas e suas atividades, e um “assunto periférico” seria a bibliografia[1]Desde modo, poderíamos acrescentar, conforme estamos estudando nesta disciplina, que desde as classificações de Aristóteles, passando pelas classificações das ciências feitas por Francis Bacon até chegarmos à classificação decimal de Melvin Dewey (1851- 1931), ou a classificação de Ranganathan entre 1933 e 1960, temos uma longa história de contribuições e fundamentações teóricas no que se concerne a Organização da Informação[2]. Sendo que, os esquemas de classificações adotados por um determinado grupo social sempre vão atender de alguma forma aquela dada comunidade. E estes esquemas, conforme anteriormente mencionado por meio de Langridge (1977) podem ser conscientes ou inconscientes. Outro ponto observado pelo autor, é que no âmbito da Biblioteconomia, os esquemas gerais “são elaborados especialmente para bibliotecas públicas, bibliotecas acadêmicas e bibliografias nacionais”. Já os esquemas especializados “são elaborados para aquelas bibliotecas que enfatizam uma área de conhecimento ou servem a um grupo especial de pessoas”.


Reflexões conclusivas

Levando em consideração a relevância histórica desta tradução para o contexto brasileiro e sua importância em termos de citações em pesquisa acadêmico-universitárias, nas áreas de Biblioteconomia e Ciência da Informação, que cabe urgentemente uma reflexão profunda do seu respectivo autor e suas influências teórico-metodológicas, além de uma volta a fonte/obra a fim de repensarmos de modo profundo todas as questões levantadas e problematizadas pelo autor no que se refere à temática da Classificação e Organização da Informação e do Conhecimento, a fim de pautarmos nossas futuras pesquisas e reflexões em uma base teórico-epistemológica profunda e sólida. 




[1] Entendemos que cabe aqui uma profunda reflexão sobre aquela antiga concepção da Biblioteconomia apenas como uma área do conhecimento humano, atrelada e focada nas Unidades de Informação.
[2]  CAFÉ, Lígia Maria Arruda; SALES Rodrigo de. Organização da Informação: Conceitos básicos e breve fundamentação teórica, In: Jaime Robredo; Maria Bräscher (Orgs.). Passeios no Bosque da Informação: Estudos sobre Representação e Organização da Informação e do Conhecimento. Brasília DF: IBICT, 2010. 335 p. Capítulo 6, p. 115 – 129. Edição eletrônica. (Edição comemorativa dos 10 anos do Grupo de Pesquisa EROIC). Disponível em: <http://repositorio.ibict.br/bitstream/123456789/36/1/eroic.pdf> Acesso em: 8 out. 2015.






[1] LANGRIDGE, Derek. Classificação: abordagem para estudantes de biblioteconomia. Rio de Janeiro: Interciência, 1977. 1° Reimpressão, 2006.
[2] ARAÚJO, Alberto Ávila, et al. A contribuição de F, W. Lancaster para a ciência da informação no Brasil. Pontodeacesso: Salvador, v. 3, n. 2, p. 132 -146, ago. 2009. Disponível em: <http://www.portalseer.ufba.br/index.php/revistaici/article/view/3355/2614> Acesso em: 8 out. 2015.
[3] Contudo, no processo de preparação para este seminário não foi possível encontrar para fins de averiguação fontes confiáveis que nos trouxesse informações relevantes para preparação de um resumo biográfico sobre a vida do pesquisador.
[4] LANGRIDGE, 1997, p. 1- 4.

O CONHECIMENTO É UM PRODUTO OU UM BEM SOCIAL COMUM A QUE TODOS TÊM DIREITO?

Após a leitura do capítulo VII, da obra: Uma história social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot do escritor Peter Burke é inevitável que algumas questões se apresentem à nossa mente: Vivemos nós em uma sociedade da informação? A nossa economia atual é baseada no conhecimento? O acesso à informação contribui de modo considerável para gerar economias desenvolvidas? O conhecimento é um produto ou um bem comum a que todos têm direito?



Deste modo, neste capítulo, Burke sem pretender negar a importância das tendências recentes da comercialização da informação, trabalha seu texto no sentido de fazer com que seu leitor perceba que esta tendência recente é fruto de um processo gradual e histórico de longo prazo, que se iniciou ainda na antiguidade com Platão e os sofistas, passando pelo renascimento até chegar a noção de “lei de direito autoral” que o autor data como de origem britânica do século XVIII, mais precisamente em 1709. Assim, Peter lança seu olhar de modo panorâmico, a fim de nos levar a perceber que o comercio do conhecimento é pelo menos tão antigo, como a crítica de Platão aos sofistas por esta prática.

Ele nos escreve o seguinte: “No que diz respeito à propriedade intelectual, o movimento hoje conhecido como “revolução científica” revela não só ambiguidade, mais ambivalência”, pois “de um lado, o ideal de tornar público o conhecimento para o bem geral da humanidade” é “levado muito a sério, De outro, é impossível ignorar a realidade das ásperas disputas sobre propriedades em descobertas que iam do telescópio ao cálculo”. (BURKE, p. 137 – 138)

Assim, Peter nos faz pensar na relação entre estas duas esferas como uma via de mão dupla, ou seja, o conhecimento como efeito da ascensão do capital na superestrutura cultural, mais também os efeitos do conhecimento sobre a economia de modo substancial. (BURKE, p. 140) 

O texto de Peter, neste sentido de modo magistral, passa pela Idade Média enfatizando o nascimento da propriedade intelectual no final do medievo. E nos escreve ser necessário distinguir duas concepções distintas no modo de se entender o texto, ou seja, em toda a Idade Média lidava-se com o texto dentro de uma concepção coletivista, onde até mesmo os escribas que copiavam os textos se sentiam livre para fazer os seus acréscimos e alterações, contudo com o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna, entra em cena, estimulada pela possibilidade de impressão, uma nova concepção, a concepção individualista do texto, onde este é visto como propriedade de um indivíduo. Contudo segundo o autor, a ideia de propriedade comum é certamente ambígua, pois é necessário se perguntar “comum a quem?”, pois comum sempre será comum a partir de um determinado grupo e nunca de um todo.

Peter também trabalha um pouco no texto a noção de espionagem industrial, enfatizando aqui o modo como o conhecimento dos ofícios migrava junto com os trabalhadores de um lugar para o outro e assim as informações sobre o funcionamento das máquinas e ou o modo de fazer um determinado produto circulava de modo a gerar um comércio da informação, fazendo com que, nas palavras do escritor, “as rotas do comércio” se tornassem “rotas de papel e os fluxos de comércio”, “fluxos de informação” (BURKE, p. 141)

Neste contexto de circulação de informações de mercado que podiam ser imensamente lucrativas que o autor dispensa boa parte do seu texto para descrever sobre a VOC (Vereenigte Ost-Indische Compagnie), que segundo o autor é descrita na literatura como uma multinacional, com requisitos informacionais não muito diferentes dos requisitos utilizados pelos grandes impérios. Assim, em pleno século XVII e XVIII, por meio da sua produção de mapas manuscritos, tinham acesso a informações tão secretas que tinham que jurar diante das autoridades que não imprimiriam estas informações e nem revelariam a ninguém ao menos que este alguém fizesse parte da companhia. (BURKE, p. 143)

É neste contexto também, que segundo o autor, surgem às primeiras bolsas de valores que eram nada mais nada menos que instituições para troca de informações, isto já em meados do século XV. (BURKE, p. 144) Contudo é com a impressão que o comercio do conhecimento fica mais visível e se proliferam as informações comerciais e as feiras de negócios (BURKE, p. 145), sendo que Veneza no século XVI, Amsterdã no século XVII e Londres no século XVIII, serão descritas no texto como importantes centros editoriais (BURKE 145 – 151).

E para finalizar Peter escreve sobre as revistas, os jornais e as obras de referências, sendo que esta última será considerada pelo autor, como uma maneira daquele tempo, ao seu modo, tentar resolver os problemas relativos ao que chamamos hoje de recuperação da informação. (BURKE, p. 153). E a guisa de conclusão ele nos escreve:
Nos primórdios da Europa moderna, [...], o conhecimento estava ligado cada vez mais intimamente à produção via impressão, e isso levou a um sistema de conhecimento mais aberto. A invenção da prensa tipográfica efetivamente criou um novo grupo social com interesse em tornar público o conhecimento. Isso não quer dizer que a informação se tornou pública apenas por razões econômicas; [...], rivalidades políticas às vezes levavam um governo a revelar os segredos de outro. Ainda assim, o mercado de informações cresceu em importância ao longo do período. (BURKE, P. 158)
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Uma história social do conhecimento

EM UMA SOCIEDADE PLURAL QUAL A IMPORTÂNCIA DO DIÁLOGO E DA CONVIVÊNCIA ENTRE OS DESIGUAIS?


Crash – no limite, é um filme dirigido pelo produtor e diretor de cinema e televisão Paul Edward Haggis. Um drama que foi lançado internacionalmente no ano de 2005, contudo que estreou em um festival de cinema canadense em 2004. Disto isto, poderíamos concluir que se trata já de um filme antigo. Até poderíamos... se o tema abordado na trama dramática da sociedade retratada não fosse tão atual e pertinente, a saber, os preconceitos. 




Toda a história se passa na cidade de Los Angeles nos EUA, e a questão dos preconceitos é abordada não de modo costumeiramente comum com ênfase na bipolaridade preto e branco, como se a única forma de preconceito existente em uma dada sociedade fosse somente o preconceito racial, mais antes, por meio de cada personagem somos levados a problematizar e perceber como são complexas as questões que envolvem as situações relativas aos preconceitos, já que parece mesmo existir tantos preconceitos quanto humanos existir. Outra questão bem apontada por meio da trama são as questões relativas às estruturas sociais complexas que envolvem esta problemática dos preconceitos e o quanto estas questões perpassam estritamente por nossas vivências existenciais. 

O jovem policial branco, por exemplo, nos faz problematizar o quanto até mesmo aqueles que eticamente parecem estar comprometidos em romper com estas estruturas sociais podem se deparar com situações existenciais que revela claramente o quanto ainda estão cegos em sua maneira de categorizar as coisas. Este personagem, protagoniza uma das cenas mais emblemáticas do filme, ao matar em seu carro, após conceder carona, um jovem negro; sendo movido quase que basicamente pelos estereótipos que fazia da sua vítima. Parece que ficou evidente por meio desta cena o que nenhum espectador esperava daquele personagem.

A rica esposa de um político influente, e a esposa negra do cineasta, também nos mostram o quanto as circunstâncias existências de nossas vidas contribuem para que estereótipos e preconceitos sejam alterados por meios de circunstâncias existenciais e acidentais de nossas vivências. 

Um ponto negativo do filme, em minha opinião, foi ter sido reforçado, por meio de um personagem negro, que os mesmos são exagerados em relação às questões relativas ao preconceito racial. Criou-se uma caricatura de situações exageradas e as transformou em falas que foram colocadas na boca deste personagem negro. Reforçando aquela velha violência simbólica de que: alguns negros exageram demais em relação às preconceitos raciais, ou ainda, tem negro que acha que tudo é preconceito. Nota zero, para a trama neste ponto.

Contudo, ao tirar pela primeira frase narrada logo no início do filme: “Em Los Angeles ninguém se toca. Estamos sempre atrás do metal e do vidro”, acredito que o filme já tenha contribuído bastante para a seguinte problematização: Em uma sociedade plural qual a importância do diálogo e da convivência entre os desiguais? Pois, somente construindo novas vivências existenciais firmadas em diálogo constante é que conseguiremos desconstruir aos poucos velhas estruturas sociais.

AS INSATISFAÇÕES SOCIAIS COMO PRESSUPOSTOS PRIMÁRIOS PARA OS REGIMES TOTALITÁRIOS





O filme A ONDA – é um drama e ou suspense alemão de 2008, dirigido por Dennis Gansel. Diretor, escritor e ator de cinema na Alemanha, nascido em 1973. É um filme inspirado no livro Todd Strasser, obra de um grande escritor romancista dos Estados Unidos – EUA. E o livro é inspirado em fatos reais ocorridos em uma escola na Califórnia nos EUA em 1967, na cidade Palo Alto.


O fio condutor da trama é a experiência didática pedagógica feita pelo personagem/professor Rainer Wegner. Professor do Ensino Médio que com o intuito de ensinar aos seus alunos sobre os regimes políticos totalitários, e que estando em um ambiente escolar propício para isto, pois a escola tinha como Projeto Político Pedagógico trabalhar os temas dentro de uma proposta diferenciada, ele se envolve em um experimento que poderia levar os seus alunos a compreenderem como algumas características destes governos ainda estão bem vivas nos dias atuais.


Assim, partindo deste fio condutor de possibilidades didáticas estratégicas e também dos questionamentos dos próprios alunos de que não seria possível naquele contexto retratado no filme a ascensão do nazismo/fascismo novamente, o filme problematiza questões como “o poder da unidade”, da “disciplina”, da “força” em momentos ameaçadores. E nos faz problematizar a seguinte questão: como ideologias e propósitos de uma única pessoa ou de certos grupos, em determinados momentos, podem servir como plataformas de manipulação de uma massa tão diversa? Ou seja, o que fez com que o nazismo na Alemanha entre 1934-1945 exterminasse mais de 10 milhões nos campos de concentração? (Bom, quando levamos em consideração que menos de 10 por cento desta dada sociedade era nazista, ficamos ainda mais impressionados.)


Outro aspecto interessante no filme é a questão das personalidades e vivências dos adolescentes e as questões relativas à psicologia social, pois apesar do movimento da onda ter influenciado praticamente toda comunidade escolar, é importante observar por meio do filme a participação de cada um neste processo, começando pelo professor que tinha uma capacidade incrível para envolver seus alunos na atividade proposta, até Tim, aquele aluno que vê na experiência uma possibilidade incrível de ser aceito pelo grupo, o que nunca ocorrera antes em sua vida. E Mona, uma aluna que desde o início se mostra contra o movimento da Onda e lidera um movimento de oposição. 

Um filme que realmente nos faz pensar e problematizar muitas questões pertinentes e presentes à realidade política brasileira na atualidade. E que nos faz perceber o quando as ideologias atreladas às insatisfações coletivas-sociais podem ser um prato potrificado onde se gestam os governos totalitários.