domingo, 20 de novembro de 2016

O CONHECIMENTO É UM PRODUTO OU UM BEM SOCIAL COMUM A QUE TODOS TÊM DIREITO?

Após a leitura do capítulo VII, da obra: Uma história social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot do escritor Peter Burke é inevitável que algumas questões se apresentem à nossa mente: Vivemos nós em uma sociedade da informação? A nossa economia atual é baseada no conhecimento? O acesso à informação contribui de modo considerável para gerar economias desenvolvidas? O conhecimento é um produto ou um bem comum a que todos têm direito?



Deste modo, neste capítulo, Burke sem pretender negar a importância das tendências recentes da comercialização da informação, trabalha seu texto no sentido de fazer com que seu leitor perceba que esta tendência recente é fruto de um processo gradual e histórico de longo prazo, que se iniciou ainda na antiguidade com Platão e os sofistas, passando pelo renascimento até chegar a noção de “lei de direito autoral” que o autor data como de origem britânica do século XVIII, mais precisamente em 1709. Assim, Peter lança seu olhar de modo panorâmico, a fim de nos levar a perceber que o comercio do conhecimento é pelo menos tão antigo, como a crítica de Platão aos sofistas por esta prática.

Ele nos escreve o seguinte: “No que diz respeito à propriedade intelectual, o movimento hoje conhecido como “revolução científica” revela não só ambiguidade, mais ambivalência”, pois “de um lado, o ideal de tornar público o conhecimento para o bem geral da humanidade” é “levado muito a sério, De outro, é impossível ignorar a realidade das ásperas disputas sobre propriedades em descobertas que iam do telescópio ao cálculo”. (BURKE, p. 137 – 138)

Assim, Peter nos faz pensar na relação entre estas duas esferas como uma via de mão dupla, ou seja, o conhecimento como efeito da ascensão do capital na superestrutura cultural, mais também os efeitos do conhecimento sobre a economia de modo substancial. (BURKE, p. 140) 

O texto de Peter, neste sentido de modo magistral, passa pela Idade Média enfatizando o nascimento da propriedade intelectual no final do medievo. E nos escreve ser necessário distinguir duas concepções distintas no modo de se entender o texto, ou seja, em toda a Idade Média lidava-se com o texto dentro de uma concepção coletivista, onde até mesmo os escribas que copiavam os textos se sentiam livre para fazer os seus acréscimos e alterações, contudo com o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna, entra em cena, estimulada pela possibilidade de impressão, uma nova concepção, a concepção individualista do texto, onde este é visto como propriedade de um indivíduo. Contudo segundo o autor, a ideia de propriedade comum é certamente ambígua, pois é necessário se perguntar “comum a quem?”, pois comum sempre será comum a partir de um determinado grupo e nunca de um todo.

Peter também trabalha um pouco no texto a noção de espionagem industrial, enfatizando aqui o modo como o conhecimento dos ofícios migrava junto com os trabalhadores de um lugar para o outro e assim as informações sobre o funcionamento das máquinas e ou o modo de fazer um determinado produto circulava de modo a gerar um comércio da informação, fazendo com que, nas palavras do escritor, “as rotas do comércio” se tornassem “rotas de papel e os fluxos de comércio”, “fluxos de informação” (BURKE, p. 141)

Neste contexto de circulação de informações de mercado que podiam ser imensamente lucrativas que o autor dispensa boa parte do seu texto para descrever sobre a VOC (Vereenigte Ost-Indische Compagnie), que segundo o autor é descrita na literatura como uma multinacional, com requisitos informacionais não muito diferentes dos requisitos utilizados pelos grandes impérios. Assim, em pleno século XVII e XVIII, por meio da sua produção de mapas manuscritos, tinham acesso a informações tão secretas que tinham que jurar diante das autoridades que não imprimiriam estas informações e nem revelariam a ninguém ao menos que este alguém fizesse parte da companhia. (BURKE, p. 143)

É neste contexto também, que segundo o autor, surgem às primeiras bolsas de valores que eram nada mais nada menos que instituições para troca de informações, isto já em meados do século XV. (BURKE, p. 144) Contudo é com a impressão que o comercio do conhecimento fica mais visível e se proliferam as informações comerciais e as feiras de negócios (BURKE, p. 145), sendo que Veneza no século XVI, Amsterdã no século XVII e Londres no século XVIII, serão descritas no texto como importantes centros editoriais (BURKE 145 – 151).

E para finalizar Peter escreve sobre as revistas, os jornais e as obras de referências, sendo que esta última será considerada pelo autor, como uma maneira daquele tempo, ao seu modo, tentar resolver os problemas relativos ao que chamamos hoje de recuperação da informação. (BURKE, p. 153). E a guisa de conclusão ele nos escreve:
Nos primórdios da Europa moderna, [...], o conhecimento estava ligado cada vez mais intimamente à produção via impressão, e isso levou a um sistema de conhecimento mais aberto. A invenção da prensa tipográfica efetivamente criou um novo grupo social com interesse em tornar público o conhecimento. Isso não quer dizer que a informação se tornou pública apenas por razões econômicas; [...], rivalidades políticas às vezes levavam um governo a revelar os segredos de outro. Ainda assim, o mercado de informações cresceu em importância ao longo do período. (BURKE, P. 158)
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Uma história social do conhecimento

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